A Balsa.
Essa é uma história verdadeira, ou tão verdadeira como qualquer criança de cinco anos acredita, mas eu digo que é verídica, pois quem me contou foi a minha avó Cecília, e se você leu o capitulo "Uma História de amor", você sabe muito bem que Dona Cecília é uma mulher verdadeira, alguns dizem que até demais.
Celeste, Cecília e Conceição são irmã, mais que isso, elas são amigas! A mais velha, Celeste, está com doze anos, uma mulher feita! A do meio, Cecília, está com 8 anos, uma quase mulher! A mais nova, Conceição, está com 6 anos, uma menina! Elas acompanham sua mãe [e aqui estarei devendo o nome da minha Bisa, eu nunca parei para perguntar a minha falecida avó qual era o nome da mãe dela, nunca me pareceu uma pergunta interessante, por isso irei escolher um nome que faz sentindo com a história], Carlota, em uma fabrica de tecidos. Enquanto sua mãe tinge os tecidos para serem vendidos, as meninas ( Uma Mulher!- Celeste dizia frequentemente) separavam o algodão engomado para serem os próximos tingidos, ajudando a sua mãe e ganhando um pequeno trocado que serve para comprar doces na feira.
Isso foi só uma introdução para a verdadeira história, vocês já sabes que as irmãs trabalham junto a sua mãe, o que você não sabem é como elas iam até a tal fabrica de tecidos. E é justamente o caminho de ida e volta que sempre me chamou a atenção, ou melhor, é no caminho que a história que minha avó contava com tanta emoção e medo, acontece.
Todo dia à quatro e quinze da manhã, Carlota acorda a mais velha, em seguida sacode a do meio que resmunga, mas levanta com os olhos fechados, para depois com sussurros e carinhos acordar a mais nova, que somente sorri e levanta. Todas escolhem suas roupas, saias compridas e blusas de manga, afinal o sereno é gelado essa hora da manhã (É madrugada! - Cecília dizia frequentemente), a mãe prepara um pequeno café, só para forrar a barriga! Ás cinco em ponto elas estão prontas para ir à fábrica, atravessam um pequeno caminho de terra, coisa de dez minutos, para depois avistarem um rio e juntamente uma enorme balsa branca, tão grande que Cecília tinha que a certeza que caberia mil pessoas nela e ainda sobraria espaço para entrar mais gente! A mãe, Carlota, se aproxima da balsa com o dinheiro certo para a passagem das quatro, primeiro entra Conceição, a próxima é a vez da Cecília e para no final subir Celeste e se posicionar no meio da Balsa ( Nada de se segurar nas barras!- dizia Carlota frequentemente). Pronto, mais um dia normal né ?, mas a minha avó conta que nesse que dia, nada foi normal.
Primeiro que estava uma neblina fora do comum, uma fumaça branca que é quase palpável. Conforme a balsa ia atravessando o rio, o dia ficou mais frio, a neblina mais densa, e do nada parece uma sensação de aperto no coração atingiu minha avó e suas irmãs. Com exatas palavras da vovó "Eu não via nada pela frente, sentia a mão da Celeste apertar a minha com força, tentei olhar para a minha mãe, mas a neblina era tanta que eu não a via, sua tia avó falou baixinho no meu ouvido - Cecília, segura a Conceição, e não deixa-a cair!- e foi quando percebi que minha irmã mais nova tava paralisada! Ela olhava para frente com medo, não se mexia e nem piscava! Eu perguntei:- Conceição? O que foi? Por que você está assim? Fala alguma coisa- , mas ela continuava a olhar para frente, foi quando Celeste , com toda a sua proteção, abraçou nós duas e pediu com a voz cheia de pavor para não olhar em direção ao final da balsa, mas eu fui teimosa, e olhei. Eu nunca vou me esquecer do que eu vi, nunca! Na nossa frente tinha um homem, com calças e blusas pretas, ele era alto, e tinha um cabelo esquisito, ele sorria, mas não tinha os dois dentes da frente, eu olhei para ele e ele me viu, nesse momento um assobio saiu da sua boca, parecia que ele estava me chamando. Conceição disse para eu não ir, que ele era uma pessoa ruim, então eu segurei sua mão mais forte, tentei fechar os olhos, mas de alguma forma ele não deixava! Ele estava ficando bravo, eu podia sentir! Ele andou, deu dois ou três passos em nossa direção, eu gritei muito alto, e Celeste começou a rezar o pai nosso, eu e Conceição nos juntamos a ela, nós três rezamos muito alto. Do mesmo jeito que começou, terminou, do nada a neblina passou, e aquele aperto também, nossa mãe, -- sua bisa-- perguntou o porque estávamos abraçadas, chorando e rezando! Eu contei o que tinha acontecido, e por incrível que pareça, minha mãe acreditou, hoje eu penso que ela de alguma forma também viu aquele homem terrível! Depois desse dia, nunca mais fomos até a fabrica com a minha mãe, ela e meu pai nos proibiram de nos aproximar da balsa novamente.
Essa é uma história que minha avó e minha tia-avó Celeste sempre contava para nós, eu perguntei, depois de grande, se era verdade o tinha acontecido, se elas não estavam inventando para que pudéssemos ficar com medo, foi nesse dia que a minha avó disse com todo seriedade que cabia nela: -- Ana, filha, eu rezo todos os dias para nunca mais ver aquele homem novamente, porque você acha que eu odeio quando seu pai ou tios assobiam aqui dentro? Eu me lembro da sensação que senti e foi a pior do mundo! -- depois desse dia, passei a acreditar que realmente minha avó viu alguma coisa naquele dia, ela não fala em espirito, ou qualquer coisa desse tipo, mas certamente não era humana!
Até a próxima!
A.M.
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